Instituto Brasileiro de Museus

Museus Ibram Goiás

MESA-DEBATE: VIVÊNCIAS INDÍGENAS NO CENTRO OESTE

O Museu das Bandeiras recebeu no dia 30 de Setembro de 2023, a presenças das professoras e pesquisadoras Lorranne Gomes da Silva e Eunice Pirkodi Caetano Moraes Tapuia para a realização de uma conversa sobre suas vivências indígenas no Centro Oeste brasileiro.

publicado: 04/11/2023 10h36, última modificação: 04/11/2023 10h40

O evento realizado no histórico prédio do Museu das Bandeiras, antiga Casa de Câmara e Cadeia,foi palco para a realização de uma conversa sobre as vivências indígenas das duas mulheres no Centro Oeste brasileiro. A presença delas foi possibilitada por uma parceria entre os museus IBRAM Goiás e a Superintendência do Iphan em Goiás, e aconteceu como parte da programação da 17ª Primavera dos Museus, que nessa edição, teve seu tema definido por meio de consulta pública e foi sugerido pela comunidade.

A Primavera dos Museus é uma ação anual coordenada pelo IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus, com duração de uma semana, que visa mobilizar os museus brasileiros a elaborarem programações especiais voltadas para um mesmo tema, escolhido pelo próprio Ibram. O tema da 17ª Primavera dos Museus, em 2023, foi “Memórias e Democracia: Pessoas LGBT+, Indígenas e Quilombolas”, e aconteceu entre os dias 18 a 24 de Setembro.

Para a mesa, a professora e pesquisadora, Lorranne Gomes, trouxe falas sobre seu trabalho com os indígenas da etnia Avá-Canoeiro, viventes em território indígena no Estado de Goiás. O povo Avá-Canoeiro atravessou um episódio de massacre protagonizado pela disputa de território com os fazendeiros da região em que os indígenas estavam inseridos, sendo a comunidade reduzida a 5 sobreviventes, em Goiás. Os Avá-Canoeiro são uma etnia de recente contato, se apresentaram aos funcionários na Funai na década de 1980, que resistiram desenvolvendo estratégias de sobrevivência mescladas ao trauma de ver toda a sua comunidade ser assassinada. A professora Lorranne Gomes foi uma das pesquisadoras a conseguir adentrar o território indígena e estabelecer vínculos com a comunidade, ainda durante o desenvolvimento de sua dissertação de mestrado em 2008 até os dias de hoje.

A professora e pesquisadora, Eunice Tapuia, trouxe para a conversa sua vivência enquanto indígena Tapuia, na Aldeia do Carretão, no município de Nova América-GO. Eunice levantou questões acerca do movimento feminista das mulheres indígenas, as dificuldades de acesso ao ensino formal não-indígena e a autonomia dessas mulheres sobre as decisões que impactam suas vidas. Eunice compartilha também a história da trajetória do povo Tapuia no Estado de Goiás, o modo como foram desterritorializados, forçados a interagir com outros povos resultando em troncos de ancestralidade, reterritorializados no município de Nova América e como isso impactou seus costumes e tradições.

Eunice também fortaleceu o discurso acerca da importância de documentar os registros das memórias do seu povo para que sejam recontadas e sobrevivam à passagem do tempo não sucumbindo a um novo massacre que consumirá as lembranças e histórias de toda a comunidade, sujeitando-o a um novo estereótipo carregado de exotismos e preconceitos. Assim, de forma semelhante, Lorranne, com a propagação da história do povo Avá-Canoeiro, reconta e expõe a dívida social existente para com esses sujeitos. Os museus, enquanto lugares de proteção e disseminação de memórias e narrativas, cumpre sua função social abrindo seus espaços para que os sujeitos protagonistas das histórias sejam eles mesmos as vozes por trás das narrativas contadas. Incentivando e estimulando debates que enriquecem as reflexões sobre como enxergamos e convivemos com as diferentes vivências e culturas que formam as multidentidades do imenso solo brasileiro.